PRINCÍPIOS
AS PERFEIÇÕES
Esse é um dos conceitos norte de meu trabalho, o cruel paradoxo da perfeição: como realizar algo impossível por definição? Entendo que esse seja o ponto cisão entre artesão e artífice: o segundo depende de atingir a perfeição para existir como conceito. Um indivíduo que depende de algo impossível para sua mera existência é essencialmente paradoxal.
Para me guiar durante esse eterno e ilógico conflito interno passei a entender que existem dois tipos de perfeição: a absoluta, que presumo ser a beleza pura, e a humana, o resultado da busca incessante pela primeira. É como se a perfeição absoluta fosse o horizonte... o artífice é fascinado por ele, mas o trajeto é incerto e só se revela perante à mais brutal auto crítica, entretanto, durante essa caminhada perpétua, a perfeição humana é forjada, criação após criação. A perfeição humana é a contribuição do artífice ao mundo... a contribuição daqueles cuja a paz interna exige que realizarem seu melhor, qualquer seja o ofício.
QUALIDADE É SOBERANA, NÃO O TEMPO
Há cada momento que passa, mais rápidos eles se tornam. Gosto de pensar o ateliê como um porto seguro da velocidade do mundo, onde os ponteiros não são soberanos, um local para o qual os próprios relógios dirigem-se quando buscam esquecer da existência do tempo. Minha preocupação central é sempre criar algo um passo mais perto da perfeição humana, e isso exige tempo... o tempo que for necessário, para ser mais exato.
Ao findar a confecção de uma pulseira, deixo-a dentro de uma gaveta por dois ou três dias, para então retornar com olhos descansados e julgá-la com o devido rigor. Caso, nesse momento, um detalhe me salte aos olhos ou não esteja no nível que desejo, todo o processo se reinicia, quantas vezes forem necessárias.
Não trabalho com o sistema de linha de montagem, cada pulseira tem exclusividade na única mesa de trabalho que tenho. Enquanto ali ela estiver todo o meu foco a pertence, sem a pressão eterna da esteira de Chaplin. A sua pulseira será uma faustosa ode sem o tempo como protagonista.
UMA PONTE ENTRE MUNDOS
Acredito que meu ofício seja criar artigos que tenham significado e propósito, uma vez rendido à produção em massa de peças estéreis, de um estoque, estarei trilhando o caminho do gelado metal das máquinas. Para conseguir dedicar todo meu foco à um projeto, ele deve ser instigante, criativo e que gere emoção.
Nosso projeto começa visitando seu Mundo das Ideias, preciso que você me leve para compreender exatamente o que idealizou para então criarmos juntos um esboço mental antes de começar a entalhar o couro. As pulseiras que crio no ateliê são tanto obras minhas quanto dos clientes, eu sou meramente o executor à quem foi confiada a imensa honra de construir a ponte entre os mundos.
A REBELDIA DE "VER"
Nossos olhos se tornaram tão velozes em enxergar que paramos de ver. A dialética rege o nosso mundo de maneira tão bela que muitas vezes não nos apercebemos dela. Fato é que de nada valeria a busca incessante do artífice pela perfeição absoluta se não tivesse ao seu lado pessoas que veem e sabem apreciar a beleza do mundo.
Decidi destinar todo meu foco às pulseiras porque encontrei na horologia pessoas que resistem em ver, que nutrem a mesma paixão que eu pela chaîne opératoire do artesanal, que, quando tem algo belo em mãos... veem. Compreendem um tourbillon, uma costura, um vinho, não como dados da natureza, mas o resultado da caminhada de alguém ao horizonte.
Quando percebi a paixão pela horologia, soube imediatamente que esse seria o meu lugar... um lugar de pessoas que iriam me compreender e partilhar dos mesmos anseios que os meus. Um artífice só pode ser tão bom quanto as pessoas que partilham de sua caminhada, agradeço imensamente por exigir meu melhor... mais importante até: por permitirem meu melhor, sem você, o anseio do meu paradoxo seria infrutífero.