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GABRIEL VEZZANI CAVADA

Longa é a discussão humana acerca o belo, os gregos já se debruçavam sobre o conceito e antes deles os chineses. Somos obcecados em "cientificizar" a ​beleza, exprimir em fórmula ou palavra a pura beleza. Não tenho pretensão de adentrar à tal discussão, tão longa e dura que talvez jamais conheceremos seu fim.

Sou grato, no entanto, por ter encontrado o meu belo pessoal durante minha formação como arqueólogo pela Universidade Federal do Paraná, um curso que ensina à compreender a longa história da humanidade através da leitura das técnicas utilizadas nos artefatos que nos foram deixados. Mais do que os objetos materiais em si, aprendemos a ler como eles foram criados, mesmo que seu artesão tenha vivido há milhões de anos. Pegue em suas mãos algo produzido por uma pessoa, olhe bem, tente imaginar como ela realizou cada técnica... qual foi utilizada antes? Porque? Que tipo de ferramenta usou? Por onde ele começou? A chaîne opératoire é de extrema beleza. 

Entendi que, para mim, a beleza está em como algo é feito, mais do que o algo em si. Claro, uma peça pode -e deve- ser a mais pura expressão do belo almejado, mas o que a torna bela aos meus olhos é apreciar o bom trabalho que alguém dispendeu para confecciona-la. 

A maior parte da página dedicada à falar de mim é, na verdade, uma breve introdução à um dos meus conceitos guias, pois acredito que ele expresse muito melhor que um curriculum quem sou e o que esperar de meu trabalho. Dito isso, sou arqueólogo formado e artesão há muitos anos, criar é meu método de acalmar a mente. Já trabalhei com tecido, osso, metal, madeira. 

Atualmente todos os meus esforços estão dedicados à confeccionar pulseiras para relógios por um principal motivo: encontrei nesse meio amigos-clientes que apreciam a técnica tanto quanto eu. É uma troca, uma conversa entre apaixonados pela chaîne opératoire, de pessoas que entendem que um ponto de costura não é obra do caso, que uma engrenagem no relógio não é um dado da natureza... são a própria essência do ser humano. Uma paixão compartilhada: o verdadeiro artesanal. 

Criar para olhos velozes seria a morte filosófica do meu ofício, uma vez que a dialética é rompida: o artífice só existe na presença de olhos atentos, apaixonados, que apreciam não só o resultado final, mas todo o caminho. 

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